O ciclo de vida da cortiça, enquanto matéria-prima, começa com a extração da casca aos sobreiros, a que se chama descortiçamento. Depois de extraída, a cortiça entra no processo industrial até à obtenção da infinidade de produtos que podemos encontrar: rolhas, materiais de construção e design, entre muitos outros.
Descortiçamento
O descortiçamento é a extração da casca aos sobreiros e realiza-se durante a fase mais ativa do crescimento da cortiça, entre meados de maio ou princípios de junho até meados ou fim de agosto.
Para iniciar o descortiçamento o troco do sobreiro tem que atingir um perímetro de cerca de 70 cm quando medido a 1,3 metros do chão. Para isto são precisos cerca de 25 anos.
Neste primeiro descortiçamento, a chamada desbóia, obtém-se uma cortiça de estrutura muito irregular e com uma dureza que se torna difícil de trabalhar. É a chamada cortiça virgem que será utilizada em outras aplicações que não as rolhas (como pavimentos, isolamentos, etc.), já que está longe de apresentar a qualidade necessária para esse fim.
Nove anos depois, no segundo descortiçamento, obtém-se um material com uma estrutura regular, menos duro, mas ainda impróprio para o fabrico de rolhas e que se designa por cortiça secundeira.
É só no terceiro descortiçamento, e nos seguintes, que se obtém a cortiça com as propriedades adequadas para a produção de rolhas de qualidade, uma vez que já apresenta uma estrutura regular com costas e barriga lisas. É a chamada cortiça amadia ou de reprodução. A partir desta altura, o sobreiro fornecerá, de nove em nove anos, cortiça com boa qualidade durante cerca de dois séculos, produzindo, em média, 15 descortiçamentos durante toda a sua vida.
O descortiçamento do sobreiro é um processo ancestral que só pode (e deve) ser feito por especialistas: os descortiçadores. Para não danificar a árvore, é necessária habilidade manual e muita experiência.

1. Abrir
Golpeia-se a cortiça no sentido vertical, escolhendo a fenda mais profunda do enguiado (as ranhuras da casca). Ao mesmo tempo, torce-se o gume do machado para separar a prancha do entrecasco. É possível calcular o grau de dificuldade de cada extração pelo “toque” do machado. Ao aplicar-se o gume do machado sobre a prancha, e se a cortiça estiver a “dar bem”, ouve-se um som oco característico do rasgamento. Quando está a “dar mal”, o machado emite um som curto, firme e seco.
2. Traçar

3. Separar
Em seguida, separa-se a prancha com a introdução do gume do machado entre a barriga da prancha e o entrecasco. Depois, executa-se um movimento de torção do machado entre o tronco e a cortiça que se pretende separar
4. Extrair

Após a extração das pranchas, mantém-se aderentes alguns fragmentos de cortiça junto à base do tronco. Para retirar os possíveis parasitas que existam nos calços do sobreiro, o descortiçador dá algumas pancadas com o olho do machado.

Finalmente, marca-se a árvore, usando o último algarismo do ano em que foi realizada a extração.

Período de repouso
Percurso Industrial das Rolhas de Cortiça
- Limpar a cortiça
- Extrair-lhe as substâncias hidrossolúveis
- Aumentar a sua espessura e assim reduzir a sua densidade
- Torná-la mais macia e elástica
Antes da cozedura, as células da cortiça estão comprimidas de forma irregular, mas durante este processo, o gás contido dentro das células expande. Em resultado, a estrutura da cortiça torna-se mais regular e o seu volume aumenta em cerca de 20%. A cozedura é uma operação prescrita pelo Código Internacional da Práticas Rolheiras. Uma operação que, além de melhorar a estrutura interna da cortiça, também contribui para que a microflora seja substancialmente reduzida. Várias empresas rolheiras usam processos complementares para obter uma melhor desinfeção, sendo que outras utilizam sistemas dinâmicos onde a água está constantemente a circular e ao mesmo tempo a ser descontaminada antes de entrar novamente no ciclo de cozedura.

Estabilização
Após a cozedura, decorre a estabilização da cortiça. Só depois deste período, que se estende por duas a três semanas, é que se procede à seleção das pranchas.
A estabilização serve para aplanar as pranchas e permitir o seu repouso. Só assim a cortiça obtém a consistência necessária para a sua transformação em rolhas.
A estabilização permite que a cortiça atinja, ainda, o teor de humidade ideal para o seu processamento e que é de cerca de 14 por cento.
Os bordos das pranchas são preparados e as arestas aparadas antes de se proceder a uma avaliação manual inicial. As pranchas são separadas por classes de qualidade com base na espessura, porosidade e aspeto.
Depois, as pranchas de cortiça são cortadas (rabaneadas) em tiras com uma largura ligeiramente superior ao comprimento da rolha a fabricar.
As rolhas de cortiça natural são fabricadas por brocagem a partir de uma peça única de cortiça; e as rolhas técnicas são produzidas a partir de um corpo formado por aglomerado de grânulos de cortiça, ao qual se pode aplicar, ainda, nos topos, discos de cortiça natural.