Hotspot da natureza
O montado de sobro assegura uma grande biodiversidade natural, incluindo fauna selvagem, pastagens e flora diversa. Alberga uma grande variedade de espécies animais e plantas em teias de relacionamento alimentar centradas no sobreiro. A Rede Natura 2000 considera os montados e os bosques de sobro importantes para a conservação da biodiversidade. O montado é, ainda, um dos 36 hotspots da biodiversidade, a par com a Amazónia ou o Bornéu.

Equilibrio e Conservação
As paisagens de sobreiros são um dos melhores exemplos no Mediterrâneo do equilíbrio entre a conservação e desenvolvimento para benefício das pessoas e da natureza. Suportam uma biodiversidade rica e meios de subsistência tradicionais, proporcionam oportunidades de desenvolvimento em áreas social e economicamente desprotegidas e desempenham um papel fundamental em processos ecológicos como a retenção de água, a conservação do solo ou a fixação de carbono.

Fauna

 
Biodiversidade natural

As florestas de sobro asseguram uma grande biodiversidade natural em fauna selvagem, que conta com 24 espécies de répteis e anfíbios (53% da população portuguesa), mais de 160 espécies de aves e 37 espécies de mamíferos (60% dos mamíferos portugueses). Os montados de sobro geram cobertos de fuga e nidificação e zonas de alimentação para várias espécies de fauna.


Entre os animais mamíferos encontrados nas florestas de sobreiros incluem-se lebres, doninhas, lobos, genetas, javalis, veados e alguns linces ibéricos – o felídeo mais ameaçado em todo o mundo encontra nos montados e bosques de sobro o seu habitat preferencial.

As florestas de sobro da Península Ibérica constituem o habitat ideal para milhões de aves, tais como o falcão peneireiro, o mocho galego, o picanço real, cegonhas-pretas, águias imperial ibérica, milhafres, abutres negros, piscos, tordos, tentilhões e pica-paus, bem como para as 60.000 garças-reais que anualmente chegam do Norte da Europa. Podem ocorrer, ainda, poupas e abelharucos, cotovias, estorninhos, gaios, pegas, rouxinóis, felosas e toutinegras, chapins, trepadeiras, pardais e escrevedeiras.

A coruja-do-mato, ave de rapina noturna de médio porte, plumagem cinzenta ou castanho-arruivada e grandes olhos negros, é particularmente abundante nos montados de sobro e azinho e habita em árvores antigas com muitos buracos e em carvalhais. A cotovia-dos-bosques, pequena cotovia de plumagem castanha, cauda curta e poupa vestigial, nidifica por todo o território numa grande variedade de habitats, como os montados abertos. O pisco-de-peito-ruivo, pequeno turdídeo de plumagem acastanhada, como um “babete” laranja vivo que lhe cobre a face e o peito, uma das aves mais comuns durante o inverno, frequenta uma grande variedade de formações arbóreas, incluindo montados de sobro e azinho, sobreirais, azinhais, olivais, pinhais e matas ripícolas.

Das 51 Zonas Importantes para as Aves em Portugal Continental identificadas pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), 11 possuem manchas significativas (mais de 1000 hectares) de sobreirais e montados de sobro.
Lince Ibérico

Estudos conduzidos em março de 2005 calcularam que o número de linces ibéricos sobreviventes era de apenas 100, muito abaixo dos 400 em 2000. No entanto, depois da revisão da Lista Vermelha das espécies ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza, em junho de 2015, o lince ibérico deixou de ser considerado internacionalmente como um animal criticamente em perigo, embora se mantenha como uma espécie em risco de desaparecer.



Em 2002, a situação era complexa, o lince ibérico estava criticamente em perigo e em Portugal não se via um exemplar na natureza desde o início da década de 1990. Portugal e Espanha uniram-se para a sua conservação e o número de linces triplicou de 52 para 156 em 10 anos, ou seja entre 2002 e 2012. Desde então, na Península Ibérica, intensificou-se o programa de reintrodução de linces com cinco centros de reprodução em cativeiro, um em Portugal e quatro em Espanha. Neste momento, haverá 11 linces em Portugal.

Em 2004, a Liga para a Proteção da Natureza, em parceria com a organização internacional Fauna & Flora, lançou o Programa Lince para assegurar a conservação e a gestão a longo prazo de áreas com habitat Mediterrâneo, como os montados de sobro. Um dos objetivos do programa incidiu na demonstração de que as atividades económicas locais, como a exploração da cortiça, podem ser compatíveis com a conservação de habitats e espécies ameaçadas.

No TOP 5 das espécies mais ameaçadas e emblemáticas de Portugal, a WWF aponta o lince ibérico e a águia-imperial ibérica.

Flora

 
135 Espécies por Km Quadrado

As camadas de subcoberto de mato e arbustos são caracterizadas pelo urze, tojo, giesta das vassouras, alfazema, murta, assim como a esteva e o medronheiro.
Num estudo realizado na Estação de Campo do Centro de Biologia Ambiental, na Serra de Grândola, foram identificadas, ainda, 264 espécies de fungos (das quais 83 espécies comestíveis), 20 espécies hepáticas e 50 musgos.



Muitas das espécies encontradas no montado têm utilização aromática, culinária ou medicinal, incluindo vários tipos de alfazema, orégão, rosmaninho, hortelã-pimenta e dedaleira. A colheita destas plantas e subsequente tratamento (através da secagem e da destilação) é um importante recurso económico para os habitantes locais.

Os cogumelos estão bem adaptados aos montados. Os cogumelos desempenham um papel importante na decomposição da matéria orgânica do solo, embora algumas espécies possam ser patogénicas. Muitas espécies de cogumelos associam-se simbioticamente com as raízes do sobreiro, partilhando assim alimento orgânico com a árvore, que ajudam na absorção de nutrientes do solo. A apanha de cogumelos é uma atividade importante em muitos montados da Península Ibérica.

As áreas de pastagem natural dos montados são muito ricas em diversas espécies de plantas. Registou-se 135 espécies por 1000 m2. A maioria destas plantas são anuais, ou seja, crescem, vivem, produzem semente e morrem no período de um ano.

O Mediterrâneo tem 13.000 espécies de plantas endémicas, o segundo valor mais elevado a seguir aos Andes tropicais e 150 espécies florestais endémicas (nativas exclusivamente de um lugar ou região). O sobreiro é uma delas.

Ecossistema 

 
Habitats Heterogéneos

Os ecossistemas das regiões de clima mediterrâneo são particularmente ricos em fauna e flora, constituindo hotspots de biodiversidade. Os montados formam habitats heterogéneos, em mosaico de usos, que variam entre áreas de mato, normalmente com várias idades e alturas, zonas de pastagem ou de agricultura, apresentando um coberto arbóreo com densidade variável de árvores (30 ou 40 árvores até mais de 100 por hectare). O sobreiro, a espécie-chave do montado, é a base de uma cadeia alimentar que inclui desde os insetos que se alimentam das suas folhas até às aves que predam estes insetos.



A heterogeneidade causada pelas copas dos sobreiros confere ao sistema diversidade vertical, mas também horizontal, o que favorece várias espécies de fauna e flora pelos nichos que cria: características diferenciadas de microclima e de fertilidade de solo entre as zonas sob a influência da copa e os espaços abertos. Apesar de geridos como sistemas agro-silvo-pastoris, de uma multifuncionalidade condicionada, são constituídos por elementos da vegetação nativa.

As áreas de pastagem natural dos montados são muito ricas em diversas espécies de plantas, registando-se mais de uma centena em parcelas de 0,1 hectares. Além disso, os montados geram cobertos de fuga e nidificação e zonas de alimentação para várias espécies de fauna, algumas com estatuto de proteção.